As variadas formas, as diferentes cores, os inumeráveis perfumes existentes na natureza, são dádivas a presentear aquele que contempla, observa e ama o que à sua volta existe.” Teresa de Calcutá

Leis Naturais e Imutáveis na poesia - Os quatro elementos - Por Joaquim Saial

Os quatro elementos  "Poema Inédito"

Era ainda noite cerrada,
quando o poeta se levantou.
Urinou,
descarregou o autoclismo,
lavou as mãos,
bebeu água
e, através da janela,
viu a chuva
e o rio que ela engrossava.

O vento soprava ameaçador,
fazendo estalar o arvoredo
e a roupa esquecida nos estendais.
Abanava telhas,
águas-furtadas,
para-raios
e cataventos
e fazia remoinhos de folhas no ar.

Para aplacar a insónia,
o poeta colocou um tronco na lareira,
acendeu-a e acendeu nela um cigarro,
antes de ver uma reportagem na tv
sobre os incêndios desse verão.

Já raiava a manhã,
quando a tempestade amainou
e ele saiu para a horta,
para sentir o cheiro da terra molhada
e ver como o barro descido da encosta
lhe melhorara a propriedade,
tapando covas que antes tinha.

O sono voltou ao poeta.

Mas antes de adormecer de novo,
decidiu ali mesmo que o último poema
do livro que estava a acabar
se intitularia "Os quatro elementos",
banda visual da sua insónia.


Os quatro elementos
Por Joaquim Saial